Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu...como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade
Al Berto - Há-de flutuar uma cidade in "Salsugem" - 1982
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segunda-feira, dezembro 24, 2007
Há-de...
domingo, dezembro 02, 2007
El mar
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Un solo ser, pero no hay sangre.
Una sola caricia, muerta o rosa.
Viene el mar y reúne nuestras vidas
y solo ataca y se reparte y canta
en noche y día y hombre y criatura.
La esencia: fuego y frio: movimiento.
El mar
Pablo Neruda – Plenos Poderes
segunda-feira, julho 02, 2007
Sophia... um mar eterno!
In memoriam
“Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar”
Sophia de Mello Breyner Andresen (06/11/1919 – 02/07/2004)
Imagens e poesia de Sophia...
Vida e obra...
Sophia in English...
View On Black
segunda-feira, junho 11, 2007
Harmony...
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But what is happiness except the simple harmony between a man and the life he leads?
Albert Camus
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quarta-feira, junho 06, 2007
Para ti eu criarei...
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Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe por onde tu passas
Para ti eu criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
(Prece – Sophia de Mello Breyner Andresen)
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quinta-feira, maio 31, 2007
...e tantas vezes fico...
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Eu pescador que pesco por um instinto antigo
e procuro não sei se o peixe se o desconhecido
e lanço e recolho a linha e tantas vezes digo
sem o saber o nome proibido.
(…)
Ou pecador que junto ao mar me purifico
lançando e recolhendo a linha e olhando alerta
o infinito e o finito e tantas vezes fico
como o último homem na praia deserta.
(…)
Eu pescador que trago em mim as tábuas
da lua e das marés e o último rumor
de um nome que alguém escreve sobre as águas
e nunca se repete. Eu pescador.
Manuel Alegre – Oitavo poema do pescador
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'...e tantas vezes fico...' On Black
segunda-feira, janeiro 22, 2007
Com as gaivotas...
Contente de me dar como as gaivotas
bebo o outono e a tarde arrefecida.
Perfeito o céu, perfeito o mar, e este amor
por mais que digam é perfeito como a vida.
Tenho tristezas como toda a gente.
E como toda a gente quero alegria.
Mas hoje sou dum céu que tem gaivotas,
leve o diabo essa morte dia a dia.
(Com as gaivotas - Eugénio de Andrade)
terça-feira, janeiro 16, 2007
Oceanos...
(...)
Amar é um deserto e seus temores
vida que vai na sela destas dores
não sabe voltar
me dá teu calor
Vem me fazer feliz porque eu te amo
você deságua em mim e eu oceano
e esqueço que amar é quase uma dor
Só sei viver se for por você!
(Oceano – Djavan)