quarta-feira, junho 22, 2005

Lembrando Eugénio...

O poeta adormeceu...

No passado dia 13, o sono profundo tomou conta de Eugénio de Andrade, um amante da palavra, incansável explorador da perfeição que tentava conseguir nos seus versos... o que diversas vezes aconteceu.


"Não houve Mozart no funeral de Eugénio. Nem Chopin. Nem Schumann. Nem silêncio. Nem a brevidade nascida da urgência de tapar a nudez dos sentimentos. Todas as palavras são desnecessárias quando sobra a dor para escurecer os antes luminosos dias.
(...)
Entre os poetas, foi dos maiores da língua portuguesa. Nunca concorreu a prémios e, no entanto, foi muito premiado. Não desdenhava distinções, mas jamais usou qualquer das insígnias ou condecorações recebidas. Mesmo se há quem o considere «o» poeta, essa será uma discussão irrelevante e desnecessária, em particular quando se constata não haver outro tão traduzido em tantas línguas, desde o servo-croata ao chinês, do japonês ao basco.
(...)
Deixava-se prender por detalhes. Seduziam-no os instantes fugazes susceptíveis de, na sua simplicidade, esconderem mundos inimagináveis. Por isso dizia que a pureza de que tanto se fala, a propósito da sua poesia, era «simplesmente paixão pelas coisas da terra, na sua forma mais ardente e ainda não consumada». Paixão pelo que pode haver de sublime no mais silencioso dos gestos.
(...)
Não há palavras interditas para quem ama. Não há gestos proibidos para quem sofre."


in Única - Expresso 18/06/2005 - Excertos do texto de Valdemar Cruz

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