domingo, junho 19, 2005

Mar...


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

(Mar – Sophia de Mello Breyner Andresen)

1 comentário:

Anónimo disse...

A escolha do tema não podia ser melhor e o primeiro "post" imagem/poema forma um conjunto harmonioso, perfeito... Uma imagem belíssima e palavras impressionantes; como eu as compreendo "Metade da minha alma é feita de maresia..."

Aqui neste blog tenho a certeza que mais uma vez nos emocionarás com as imagens a que já nos habituaste e que reflectem o teu talento e o teu sentir...

Parabéns!
Beijos